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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

A Alma Por Trás de... Mesaro Soares


A Alma Por Trás de... Mesaro Soares




Sentado, na mesa de mistura, procurava desesperadamente inspiração para uma nova música, uma parceria que havia-lhe sido sugerida. A inspiração faltava-lhe quando tinha de trabalhar no tempo dos outros… Era mais fácil quando escrevia para ele, quando permitia que as emoções e a sua paixão pela música o invadissem. Levantou-se e sentou-se na sua cadeira de reflexão. Não era homem de desistir, de colocar a toalha no chão, mas sentiu que precisava de uns minutos para que pudesse apelar à sua criatividade.

Entardecia… Mesaro corria desenfreado atrás da bola. Em breve, a mãe estaria em casa e o jogo de futebol ainda estava por terminar. Distraiu-se, tropeçou nos atacadores desatados, e caiu. Num ápice, Mesaro, levantou-se e continuou a correr. Cair todos caem, pensou, a diferença está na rapidez com que se levantam após a queda. Recuperou a bola e, determinado, dirigiu-se para a baliza oposta. Ignorou o joelho esfolado e seguiu em frente. Não existe vitória sem sacrifício. Rematou… A bola bateu no fundo da rede e os colegas juntaram-se a ele celebrando o golo.

Decidiu que ia marcar e marcou… Sorriu com nostalgia ao lembrar-se da memória de infância que tanto o caracterizou. No seu percurso sempre fez questão de seguir em frente, correr atrás dos seus sonhos, e nunca se deixar intimidar por um obstáculo. Se cair, levanta-se. Se falhar, repete. Todas as situações são momentos de aprendizagem, de melhoria contínua. Os obstáculos… Os obstáculos servem de degraus para chegar ainda mais alto. 

Apaixonado pela vida. Era assim que se sentia, um eterno apaixonado pela vida. Em tudo o que fazia procurava emoções. Achava-se um colecionador de experiências e deixava-se inspirar pela vida, pelas pessoas. Respirava poesia. Na verdade, a sua arte refletia o seu ponto de vista. Como artista, já havia passado por vários registos musicais, desde o rap, rnb, kizomba… Acreditava que na arte não havia nada certo nem errado, apenas emoção, paixão, criatividade… O importante sempre foi manter a sua criatividade, a sua essência e, desafiar-se sempre. Sempre fez os possíveis para sair da zona de conforto, aumentar a criatividade, aprender, explorar novos horizontes…

Voltou para a mesa de mistura e começou a escrever. De repente, a letra começou a fluir e a música a fazer sentido. Antes de a reproduzir, construiu na sua mente. Sempre teve essa capacidade para ver para além do que está fisicamente presente, de observar coisas abstratas e torna-las em coisas concretas. Escreveu até ter a certeza que tinha conseguido reproduzir exatamente o que tinha antes construído na sua mente. Estava feita. A música, estava finalmente completa.

Ouviu por uma última vez, antes de se dar por satisfeito, e permitiu-se invadir pela sensação de vitória. Celebrava cada vitória e apreciava tudo à sua volta. Recordou-se do dia em que entrou na faculdade num país no qual a língua principal não era a sua língua materna, e reviveu a sensação de conquista. Era assim que sentia-se cada vez que criava algo, um sentido de missão cumprida. Afinal, apesar de ser um eterno sonhador, sempre aceitou a realidade e entendeu desde cedo que em algumas situações estava em desvantagem, principalmente pelo meio de onde veio, onde cresceu. E por isso, sempre trabalhou muito mais para superar as desvantagens. E o resultado do trabalho árduo, naquele preciso momento, estava naquela música, naquele excerto de arte.

Antes de se recolher, Mesaro, dirigiu-se ao quarto onde os filhos dormiam. Observou-os a descansar e deu um beijo na testa de cada um. Agradeceu a Deus por protege-los todos os dias. Afinal, Mesaro era um homem de várias facetas, artista, apaixonado pela vida, dedicado, resiliente, mas acima de tudo era pai. Um pai que acreditava que o mais importante era dar valores aos filhos, prepara-los para o futuro e, ensinar-lhes que era importante seguir o coração, a vocação e nunca desistir. Por eles, tinha de continuar a seguir o seu sonho, a arte… Só assim fazia sentido.



Texto: Adelaide Miranda, Dezembro 2019

O artista, Mesaro Soares, está disponível para contacto:

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