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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A alma por trás de... DJB

 
“Assim que a música começou foi a correr ter com a mãe… Abraçou as pernas dela, com os seus braços franzinos, e colocou os pés em cima dos dela. Passo a passo, aprendeu a dançar agarrado às saias da mãe…”.

Das memórias que tinha dos tempos de Angola, essa era sem dúvida a mais marcante. Fechava os olhos, revia-se naquele quintal e relembrava as feições da mãe que não via desde que, aos catorze anos, partiu para Portugal. Não via e por ironia do destino nunca mais iria ver. Quem sabe um dia, se existisse vida após a morte, voltaria a abraçar a mãe que tanta falta lhe fez e que surpreendentemente era a força que o fazia continuar. Desistir? Nunca! Devia à mãe tornar-se no homem que ela sempre sonhou.
Com a mãe aprendeu a amar a música e enquanto for vivo esse amor nunca irá terminar. O amor pela música fundiu-se com o amor pela mãe. Fundiu-se naquelas tardes quentes em que dançavam juntos no quintal, fundiu-se com as memórias das noites em que ela cantava para ele adormecer, fundiu-se com a melodia da sua voz que ele carrega no peito… Mãe… A sua mãe… A sua música… A sua força…

A passagem por Portugal foi breve. Alguns anos de uma vida inteira parecem como que meia hora num dia. Breves… A mudança para Inglaterra deveu-se à vontade única de seguir os seus sonhos, como a mãe sempre o motivara. O futuro? A música, sem dúvida. Ser DJ era mais do que tocar umas músicas numa festa. Ser DJ significava e significa respeitar a música, conhecê-la, masterizá-la. O curso de Engenheiro de Som foi tirado a custo, entre estudos e trabalhos, mas não podia ser de outra maneira. Para se viver da música tem que se conhecer de onde ela vem, reconhecer a sua vibração, os seus ricochetes e mudanças de direcção…

Vive da música. Durante anos, conhecido como DJ UK, animou as noites africanas. Com auscultadores nos ouvidos e o pé a marcar o passo sentia-se realizado ao ver o público a vibrar com as suas seleções de música, com as suas passagens de mestre. Sentia que a mãe vibrava junto com a multidão…

À medida que foi concretizando os sonhos, um a um, outros foram crescendo. A empresa “Não Custa Nada”, que surgiu de uma brincadeira com amigos, promove música, artistas e eventos. Com a experiência surge a maturidade e a necessidade de se afirmar surgiu e como tal decidiu assumir o seu nome. Qual a necessidade de alterar o nome que o define? Qual a necessidade de criar uma imagem baseada no público que entretém? DJ UK? Não… Domingos Jorge Bartolomeu. Nome de família, nome abençoado dado pela sua mãe…

Quando pela primeira vez colocou em papel a sigla do seu nome, sorriu com a coincidência: DJB. Por mais que queira separar-se da sigla de “deejay” o próprio nome não o permite. Coincidência ou Destino? Essa pergunta só numa outra vida a sua mãe poderá responder. DJB, ontem, hoje e para sempre.

O próximo passo? A música, sem dúvida. Caminha agora para as malhas da produção. Dedica-se ao Projeto “Me Suja” e sabe que mais virão. Não tem medo do futuro porque sabe o que o futuro lhe traz: Música e o sorriso da sua mãe… Hoje, um lutador e pai de família, DJB sente-se abençoado. Sabe que os pés que controlaram os seus primeiros passos de dança, quando ainda não sabia andar, irão dar-lhe sempre o apoio que necessita. Na forma de um beijo dos seus filhos, de uma palavra amiga, de uma música… Aqueles mesmos pés ganharam as formas que tiveram que ganhar para ampará-lo. Na melodia da música, a sua protetora abraça-o até o dia em que numa outra vida em que voltará a esticar os braços para abraçá-la, poisar cuidadosamente os pés sobre os dela e girar, naquele mesmo quintal, girar, girar… 

 
 Adelaide Miranda, Setembro 2016
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