Viu-se
rodeado de espelhos, mas não tinha nenhuma porta por onde pudesse sair. Todos
os espelhos eram tão altos quanto a parede em que estavam encastrados e tinham
um número cravado na base. Sentou-se no centro da sala e pensou no que fazer a
seguir. Levantou-se e olhou para o espelho identificado como número 1. O
estranho espelho não refletia a sua imagem, nem imagem nenhuma. Era um espelho
baço, sem luz… virou-se lentamente e foi de encontro ao segundo espelho.
Surpreendeu-se
ao ver a sua imagem, como se estivesse sentado numa mesa, a desenhar. Tinha um
retrato à sua frente e copiava com precisão. Sorriu ao ver a sua expressão de
felicidade ao chegar ao resultado final. O Tiago, do outro lado, corria de um
lado para o outro com o desenho na mão.
Ficou
curioso e virou-se para o terceiro espelho. O que o esperava? Do outro lado,
completamente sorridente, ensinava um grupo de crianças a dançar ao som do
hip-hop português. A coreografia incluía movimentos base de breakdance, tal
como os inconfundíveis passos à Michael Jackson. No final, as crianças
juntaram-se a ele e Tiago sorriu.
O quarto
espelho tinha um palco ao fundo. Como que num anfiteatro as cortinas abriram-se
e, Tiago, viu-se no meio de um grupo de dançarinos. Dançou com toda a força da
sua alma e terminou ajoelhado no chão. Os aplausos estrondosos fizeram vibrar o
espelho, e sentiu-se assolado por uma emoção que teve dificuldade em
reconhecer, mas que permitiu que invadisse o seu coração.
De coração
cheio, Tiago, colocou-se em frente ao quinto espelho. Sentiu o peito rebentar,
quando se viu com o microfone na mão. Tremeu ao ver a emoção que carregava nos
olhos e reconheceu-a. Sentiu o sangue a ferver e o coração a palpitar. O
público aplaudiu e viu-se a olhar para os céus, a agradecer, como se quisesse
fundir às estrelas.
A luz, que
invadiu o espaço, ofuscou-o. Tiago, virou-se e deparou-se com o primeiro
espelho. Piscou os olhos várias vezes de forma a ajustar-se à claridade. Aos
poucos, a imagem ao fundo fez-se ver. Viu-se, ainda novo, em frente à maquina
de Karaoke que tinha pertencido ao seu pai. De olhos fechados, cantava Bryan
Adams, vezes e vezes sem conta, até acertar nos tons a cem por cento. Ao
terminar, abriu os olhos e disse baixinho: “Para ti, meu pai.” O menino Tiago,
aproximou-se do espelho e ofereceu-lhe o microfone. Estupefacto, colocou a mão
dentro do espelho e agarrou no microfone. Sorriu, ao menino Tiago, e disse-lhe
que tudo ia correr bem. Disse-lhe que não se preocupasse porque o pai estaria
sempre com ele, e a sua memória bem viva dentro do coração.
A imagem do
espelho desapareceu assim como a de todos os outros espelhos. Tiago ficou no
escuro, no centro da sala, com o microfone na mão. Sem saber o que fazer,
começou a cantar. Percebeu dentro daquela sala que cantar era a única arte que
o fazia sentir completo. Era a única arte que o fazia sentir-se em paz. Ao
fundo, surgiu uma porta para a qual se dirigiu. Atravessou-a e encontrou-se em
cima de um palco. O seu lugar era ali. Cantou para a multidão da mesma forma
que o menino Tiago cantou para o seu pai. Terminou com lágrimas nos olhos e
pode jurar que viu, ao fundo, o pai a aplaudir freneticamente.
Abriu os
olhos e reconheceu o seu quarto. Afinal, tudo não passou de um sonho.
Levantou-se e foi até à janela. O silêncio da noite confortou-o e a luz das
estrelas iluminou-lhe o espírito. Foi até ao sistema de som e agarrou no
microfone. As estranhas emoções que sentiu no sonho, vieram ao seu encontro.
Colocou o microfone ao peito e disse bem baixinho: Desta Vez é a Valer.
Um texto de: Adelaide Miranda
Maio 2017
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