Cortou,
cuidadosamente, os pedaços de tecido que a mãe lhe deu e fez um vestido para a
sua boneca. O modelito que fez não estava igual ao da mãe, mas também não
estava mau de todo. Olhou para a mãe com orgulho e abraçou-a depois de
experimentar a roupinha nova costurada especialmente para ela. As colegas da
escola admiravam os seus vestidos, que não se encontravam à venda em lado
nenhum. Eram exclusivos, no mundo inteiro não havia sequer um modelo igual.
Sorriu
com a memória e bateu palmas, vigorosamente, quando terminou o seu primeiro
desfile. Mal quis acreditar que tinha conseguido. Praticamente, do nada, criou
a sua marca de roupa, fez os contactos todos que achou de devia fazer, e mais
alguns, contratou as melhores modelos de Indianápolis e... De repente, estava
ali em frente àquele palco ensurdecida pelos aplausos. Depois daquele desfile,
seguiram-se muitos outros. New York Fashion Week, Cleveland Fashion Week... As
vendas online aumentaram e o sonho de abrir a loja aos poucos se foram tornando
realidade. De modelitos para bonecas a modelitos para mulheres. Um sonho que
cresceu nas mãos da mãe e quase ganhou vida nas suas... Faltou o quase... A
loja não se concretizou e a realidade bateu à porta, mas mesmo assim, Rlynda,
nunca deixou de sonhar.
Ergeu a
cabeça e dedicou-se aos seus filhos a 100%. Não deixou de sonhar, mas deu tempo
aos seus sonhos de amadurecerem. Durante dois anos dedicou-se aos filhos e à
profissão de comissária de bordo. Valeu-lhe o apoio na educação das crianças, a
benção de ter escolhido um pai presente para os seus filhos...
Rodeada
de amor, sentiu um desconforto ao aperceber-se que algo faltava. Sabia que
fazia parte da condição humana, a constante falta de satisfação, mas não
compreendia de onde vinha. Apesar de nunca ter aberto a loja a costura
continuava a ser parte da sua vida, mas aind assim faltava-lhe algo. Tinha chegado a altura de abraçar um novo
projeto, de fazer algo que lhe desse satisfação a nível pessoal. Agarrou-se à
segunda paixão que tinha na vida: a música. Reavivou as memórias dos tempos em
que subia aos palcos como dançarina e corista de tantos cantores que admirava. Sucumbiu
à forma de como se arrepiava a dançar Kizomba e a cantar. Retornou a carreira
que tinha colocado de lado, em tempos, por amor aos seus filhos. Juntou o amor
à música com o amor à costura e continuou a costurar a sua própria roupa. As
presenças no palco eram sempre acompanhadas de indumentária costurada por si. A
vida sempre foi feita de escolhas e cada escolha reflete-se em algo que tem que
ser deixado para trás. No passado, optou por deixar a música devido ao tempo
que lhe roubava longe dos filhos e sem se aperceber apagou uma pequena chama no
seu coração. Agora, como mulher, compreendia que a felicidade dos seus filhos
iria depender da sua própria felicidade. Quanto mais feliz ela fosse, mais felicidade
teria para transmitir e sentiu a necessidade de seguir o seu caminho.
Abraçou
a carreira de artista, desta vez como mulher e como mãe. Aos poucos foi
conquistando o seu lugar no mundo Kizomba, sempre fruto do seu esforço e
dedicação. Aprendeu que uma mulher bonita tem que se esforçar mil vezes mais
para marcar uma posição. Sentiu na pele a necessidade de dar dois passos para
trás ao apostar em propostas que se revelavam não ir de encontro aos seus
príncipios. Seguiu em frente com a consciência que antes de ser Rlynda, era a
Arlinda, mãe, e mulher. Seguiu em frente com a vontade de que amanhã os seus
filhos se pudessem orgulhar da mãe que têm.
O
caminho é em frente. O caminho não é feito por uma estrada reta, por vezes a
estrada faz-te andar dois passos para trás, mas é uma estrada com um destino
que depende da força de vontade que se tem de se chegar lá. O seu caminho, inclui
um microfone, tecido e tesoura. Ao seu lado caminham os filhos e é esse amor
que lhe vai permitir cortar a meta e segurar os seus sonhos, cheios de vida nas
mãos.
Um texto de: Adelaide Miranda
Junho 2017
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