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sábado, 27 de agosto de 2016

A alma por trás de... Carlos Pedro

 
As tardes no bairro da Maianga eram sempre movimentadas depois das aulas. Carlos Pedro e os seus amigos, debaixo do calor abrasador de Angola, com os calções suados e as sandálias cansadas, decidiam qual a equipa que iria começar a atacar no seu jogo favorito: o futebol humano.
- Carlos, vem para cima rapaz, preciso que vás buscar água. – Gritou a sua mãe da janela do sétimo andar.
Desanimado por ter de parar a brincadeira, Carlos, subiu as escadas do prédio, já que o elevador não trabalhava, devido ao corte de energia, para ir buscar o garrafão de água. Esperava-lhe um caminho tortuoso mas sem água canalizada não havia outra forma, teria de carregar o garrafão porque a mãe precisava da água para cozinhar. Enquanto voltava para casa, rezava pelo caminho para que não faltasse gás. As pernas já lhe doíam e as forças começavam a faltar e de maneira alguma conseguiria carregar uma botija.
Quando chegou a casa, já os irmãos faziam confusão na cozinha à espera do jantar enquanto esperavam ansiosos a chegada do irmão mais velho. Sentia-se responsável por eles e tentava sempre ajudar a mãe.
Ainda antes de terminar o jantar a campainha tocou e Carlos foi chamado à porta.
- Carlos, o vizinho vai dar “uma boda se bem” mas o “Dj” faltou, “meu puto”. Queres vir tocar?
- Tocar como, se não há luz?
- Ele tem um gerador.
- Mãe, posso ir para a casa do…
- Eu ouvi, Carlos, podes ir. Vai lá. – Respondeu a mãe antes mesmo de ele terminar a pergunta.
Desceu as escadas a correr e pela noite dentro animou a festa. Para além de passar música, Carlos, tinha o dom de animar os convidados com a sua dinâmica e boa disposição.
Terminado a “boda” e cansado sentou-se à janela a olhar o céu. O avião que passava ao longe fazia-lhe sonhar. Um dia, quem sabe, iria pilotar um avião.
O clima de tensão após a independência de Angola, obrigou Carlos e a família a mudarem-se para Portugal. Com 16 anos, num país estranho, lutou para terminar os estudos e começou a trabalhar na construção civil. O seu espírito lutador e dinâmico permitiu-lhe passar de servente a encarregado de obra.
De Angola, Carlos, levou consigo a humildade, a dinâmica, a capacidade de liderança e a paixão pelo desporto e pela música. Durante o dia os seus tempos livres eram passados a jogar futebol e basquetebol, dos quais chegou a tornar-se federado, e durante a noite a paixão pela música era alimentada acompanhando o disco-jockey Quim nas noites animadas do Sarabanda. Para trás… Para trás ficou o sonho de ser piloto que exigia um nível de estudos que não podia financiar…
Um eterno apaixonado pela vida, Carlos, apaixonou-se perdidamente aos 17 anos pela mulher da sua vida. Apanhado desprevenido pelo destino reencontrou uma antiga colega de escola, dos tempos do liceu em Angola, nas ruas de Santo André! Montado na sua bicicleta cruzou-se com uma colega da adolescência e sentiu que apenas ali, naquele momento, a viu pela primeira vez. O amor, retribuído, gerou frutos e cedo teve de assumir a responsabilidade de marido e pai.
- Carlos, o Guilherme Galiano, da RDP África, está ali para falar contigo. – Gritou o seu gerente enquanto animava a noite no Aiwé.
- Quem? – Perguntou um tanto confuso.
- O Guilherme Galiano…
Aproximou-se do locutor da rádio e meio surpreso recebeu o convite para trabalhar no projecto RDP-ÁFRICA. Recusou o convite, ele lá sabia fazer rádio, e continuou com a sua rotina.
- Carlos, ouve-me, vem ao menos fazer uma experiência, uma hora de animação e depois tomas a tua decisão. – Insistiu Guilherme depois de várias abordagens.
Relutante, aceitou o convite que mudou a sua carreira para sempre. Aquela “uma hora” de animação transformou-se facilmente em 20 anos. Passou de locutor a realizador de programas abençoado pelas noites de disco-jockey no quintal e nas festas familiares em que foi conhecendo as grandes referências do mundo da música africana nos países de expressão portuguesa. Embora não tenha frequentado a faculdade, reconheceu que era detentor do doutoramento de um curso tirado nas ruas de Luanda.
Mais de 20 anos depois de catar água, mais de 20 anos depois de jogar ao berlinde, ao futebol humano, Carlos, descobriu que o seu passado influenciou o seu futuro: no país onde nasceu, nos calções suados e com as sandálias cansadas, sem energia e sem água, tornou-se homem. Nos braços de uma colega de carteira tornou-se pai, nas festas de quintal formou-se em rádio…
Nunca conseguiu ser piloto, mas aprendeu a voar. Nas asas da vida encontrou o seu caminho e marcou a sua posição. Hoje, com três filhos, com uma história de amor e uma história de vida, pilota a produção na rádio que o acolheu e que o viu crescer.
 
 
 
Adelaide Miranda, 27-08-2016
 
O radialista/Dj pode ser contactado através de:
 
 
RDP África
Morada: Av. Marechal Gomes da Costa, nº37
1849-030 Lisboa

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00 351 213 820 081
 

sábado, 13 de agosto de 2016

A alma por trás de... Paulo Costa Gonçalves

 
As portas da alfândega fecharam-se. Paulo olhou para trás com um misto de tristeza e insegurança nos olhos. Depois de tantos anos de esforço, a libertação das fronteiras ditou o seu destino. Não havia necessidade para tantos funcionários e com a, praticamente, livre circulação de bens e pessoas perdeu o emprego.
- Tristezas não pagam dívidas. Se pagassem, estávamos aqui a chorar baba e ranho. – Disse a si mesmo enquanto colocava a sacola às costas. Virou-se, seguiu em frente e nunca mais olhou para trás.
Sentou-se à mesa da cozinha, com vários jornais espalhados e abertos na página dos classificados, e começou a escolher possíveis trabalhos. Seleccionou vários e foi à luta.
Emigrou, trabalhou nas obras, foi comercial... Enfim, fez o que achou necessário para levar o sustento para a sua família. Com o passar dos anos e apesar das dificuldades, sempre lutou contra as adversidades com um sorriso nos lábios.
- Oh Paulo, com tantas reviravoltas e incertezas como consegues estar sempre a sorrir?- Perguntavam os amigos e os mais chegados.
- Tristezas não pagam dívidas. Se pagassem, estávamos aqui a chorar baba e ranho. – Respondia sempre com um sorriso nos lábios.
Aos 43 anos, decidiu voltar a estudar. Chamaram-no louco, mas ele louco não era. Era sonhador e lutador. Sempre o foi, tanto que terminou a licenciatura em Sociologia e Planeamento com distinção. Ganhou um prémio académico e sem dar conta caiu de paraquedas no departamento de Investigação.
Infelizmente, porque um lutador deve sempre ter adversários para defrontar, Paulo deparou-se com uma doença. Uma vez mais, lutou, esbracejou, seguiu em frente...
- Então Paulo, do que te ris? Com tantos problemas que tens, do que te ris? Estás louco? – Perguntavam os amigos mais chegados.
- Tristezas não pagam dívidas. Se pagassem, estávamos aqui a chorar baba e ranho. – Respondia sempre com um sorriso nos lábios.
Ganhou a luta contra a doença, Paulo era um lutador difícil de derrotar e uma vez mais seguiu a sua vida, com sorriso característico nos lábios. Afinal, os desafios que encontrou pela frente apenas serviram para torná-lo mais forte. Ultrapassada a doença e de volta a rotina, Paulo procurou um novo desafio. Com gotas de suor a escorrerem pela fronte, lutou com o computador em busca de uma palavra passe. Lembrou-se do blogue que tinha iniciado anos antes de adoecer, mas não conseguia aceder. Fez mil tentativas, e quando já estava prestes a desistir lembrou-se da sua marca de tabaco favorita, a Amberliz, que começou a enrolar no tempo das poupanças, e como que num acto de magia, qual Gruta do Ali Babá, acedeu ao blogue.
Os primeiros capítulos do Herdeiro de Antioquia lá estavam e, finalmente voltou a escrever. Escrevia nos seus tempos livres, no meio das suas batalhas, e lentamente o livro ganhou forma. Ganhou coragem para publicar e surpreendeu-se com a receptividade. Afinal, o Paulo, sociólogo e investigador, era também escritor.
Por vezes, olhando as estrelas, relembrava a sua vida, as batalhas travadas e vencidas. Apesar de nem sempre ter tomado as decisões corretas, não tinha arrependimentos. A sua vida era o que era e todos os momentos que viveu e decisões que tomou tornaram-no quem era e levaram-no precisamente àquele lugar. Uma a uma, lembrava-se de todas as pessoas que tinham até então passado em sua vida e sorria com carinho ao recordar algumas que manteve em segredo. A descrição valeu-lhe mil aventuras vividas, mas nunca contadas.
A dimensão do céu, trazia-lhe sempre a certeza de que o mundo era incerto. Não sabia que luta o esperava no futuro, mas isso não o deixava inquieto. Viesse o que viesse iria defrontar destemidamente como sempre o tinha feito. Afinal de contas, tristezas não pagam dívidas e se pagassem...

 
 
Adelaide Miranda, 13/08/2016
 
Contacto para entrevistas e encomenda de exemplares:

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A alma por trás de... Lancelot


 - Lancelot! Lancelot! Lança! – Gritavam todos em uníssono no pavilhão. – Lança, Lancelot! Agora!
No momento em que soltou a bola, Lancelot, teve a certeza que ia acertar. Observou o seu trajeto em câmara lenta e parou de respirar por uns momentos enquanto estava na expectativa de marcar o cesto. Assim que a rede adaptou-se à invasão forçada, o marcador aumentou dois pontos e o relógio soou o final da partida, o público levantou-se e festejou a vitória… A sua vitória… Se existia uma certeza na sua vida, essa certeza era o basquetebol, nunca conseguiu exprimir o que sentia quando tinha uma bola na mão, aquela emoção que aperta o coração ao mesmo tempo que o torna acelerado… Era difícil de explicar.
- Desculpe? Pode dar-me o lugar, por favor? – Perguntou uma senhora com vários sacos na mão.
- Com certeza. Sente-se. – Afastou-se e encostou-se à porta do metro. Sempre que estava em compasso de espera a sua mente tinha a tendência de transportá-lo para aquele último jogo, fazia-o sempre reviver aquele cesto marcado no final da partida. Não se podia queixar, estas viagens permitiam que o seu corpo sentisse as emoções passadas, dando-lhe a força necessária para viver o presente e planear para o futuro. Desde cedo que o basquetebol tornou-se a sua vida mas a realidade é que nem sempre aquilo que nos define consegue garantir a nossa subsistência na sociedade actual. A força que permitiu que Lancelot seguisse um caminho diferente, longe de conflitos, e crescer como homem, tornou-se insuficiente para sustentar as obrigações monetárias. Jogar? Sim, sempre, por prazer.
Quando chegou a altura de procurar opções de subsistência o destino tramou-o. O eterno cavaleiro da Távola Redonda foi abraçado por outra paixão que o consumia. A paixão que ganhou pelas lendas arturianas, os famosos cavaleiros e a mítica Excalibur, durante os seus anos no colégio francês, tornou-o um homem de letras. Sempre que se via com uma caneta na mão escrevia pequenas músicas que guardava para si, pois sentia que não tinha muito ainda para partilhar. Na altura, era novo, a sua única experiência era o basquetebol e sentia que não tinha muito mais para dar. Pensou em tirar Direito Cívico, ingressar na faculdade como a maioria dos jovens e seguir uma vida denominada “normal”. Mas o destino tramou-o. Sem estar à espera viu-se numa batalha de “Freestyle” e sentiu a necessidade de ganhar. Apegou-se ao desafio e prometeu voltar. Fechou-se um mês em casa e voltou para derrubar os outros concorrentes. Um a um foram ficando para trás, até que no final apenas Lancelot estava de pé. O cavaleiro tinha conquistado mais uma vitória.
E assim o hip-hop escolheu-o. Como que um verdadeiro cavaleiro foi escolhido para defender o hip-hop português numa altura em que este estilo de música começava a ganhar raízes em Portugal. “Lancelot, o Pioneiro”. Um dia quem sabe alguém se lembraria dele assim. Durante anos fez música, durante anos viveu da música, durante anos foi feliz com a música a tempo inteiro e o basquetebol nos tempos livres. Quem ouviu hip-hop em Portugal sabe quem é o Lancelot…
O destino, seu fiel amigo, bateu-lhe à porta uma vez mais. Enquanto esteve sozinho a música e o seu modo de vida eram suficientes para fazê-lo feliz, mas quando se ama… Quando formou uma família deixou de ser suficiente. Andar de um lado para o outro em concertos, dormir em parte incerta, já não era aceitável. Não para um coração de pai. “Lancelot, o Pioneiro”, tornou-se “Lancelot, o Pai”. O defensor e protector da sua família. Arranjou um trabalho das nove às cinco, como a maioria da população, e por um tempo deixou de escrever. Por um tempo esqueceu-se da música e viveu como “Lancelot, o Pai”. A insatisfação, que sempre sentiu injusta, indevida, foi pouco a pouco tomando conta de si sem saber o porquê. Um dia, um belo dia, numa reunião escolar o seu filho disse com orgulho aos professores:
- O meu pai faz música. – Sorriu e abraçou-se ao pai.
Nesse mesmo dia, Lancelot chegou a casa, pegou numa caneta e escreveu. Escreveu até não poder mais. As letras fluiram como que as águas correntes de uma barragem e a insatisfação foi-se dissipando com cada música finalizada. Era a peça que lhe faltava. Não precisava de se anular, não era pior pai por voltar a escrever e a cantar. Não era pior pai por seguir o seu sonho. Era um pai melhor se assim o fizesse e mostrasse à sua família que nunca se deve desistir do que queremos desde que nunca nos esqueçamos das responsabilidades. Lembrou-se de quem era... O seu nome era Otoniel, uma figura biblíca e um defensor de Deus. “Otoniel, o Leão de Deus”, assim era o significado do seu nome. Nasceu para ser defensor, defensor dos seus princípios, defensor dos seus sonhos, defensor da sua família, defensor de si próprio.
No meio de tanta divagação, Otoniel, por pouco passou a sua paragem. Saíu a correr do metro, mesmo em cima do alarme de fecho de portas, e dirigiu-se para a saída. Tinha de ir para o estúdio gravar o álbum que estava quase pronto. “Lancelot, o Pioneiro” estava finalmente de volta. Na mala, carregava o equipamento de basquetebol e o seu bloco de notas. Depois do estúdio tinha de ir jogar, meia horinha para tirar o stress. Assim que entrou no estúdio recebeu uma mensagem no telemóvel:
- Faz uma música que ninguém consiga esquecer, papá.
Sorriu... Finalmente sabia para o que vinha. O eterno cavaleiro e defensor da sua própria Távola Redonda, “Lancelot, o Leão de Deus”.







Adelaide Miranda, 09/08/2016
O músico está disponível para contacto:

insta: @lancel0t_odc
facebook: https://www.facebook.com/lancelot_odc

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A alma por trás de... André Sousa

A alma por trás de... André Sousa


André olhava para o palco em modo de sonho... Sentado na plateia, imaginava que ele era um dos actores e que também ele fazia o público sorrir, chorar, aplaudir... Cada vez que assistia a um musical o seu coração pulava de excitação e a sua mente transportava-o para o epicentro da emoção transmitida pelos personagens, pela música, e pela atmosfera criada no recinto. Quando veio para Lisboa, carregou consigo esse sonho na mala. Caminhasse onde quer que caminhasse, passo a passo, seguia em direcção a um palco. Um dia... Em breve...

A sua paixão pelas artes não era novidade. Nasceu assim, nasceu um amante da arte do faz de conta, um amante da arte de criar emoções através da representação, da música, da dança... Em tempos, há alguns anos atrás, inscreveu-se no curso de Engenharia Alimentar, porque achava que teria mais saída a nível professional, mas não conseguiu seguir em frente. Não teve capacidade para seguir algo pelo qual não nutria uma paixão desmedida. Conversou com os pais e aconselharam-no a fazer algo diferente, algo que ele gostasse e ao mesmo tempo lhe permitisse ter uma profissão estabelecida, com menos altos e baixos que a profissão de actor. Optou por seguir sociologia. Para além de eterno amante das artes, André, era também um amante da humanidade.

Desde criança que ajudava os outros, desde criança que as diferenças sociais o atingiam, desde criança que as diferenças em termos de oportunidade devido a diferentes personalidades e valores sociais lhe faziam confusão. Várias vezes tirou da própria boca para dar a quem não tivesse. Várias vezes emprestou sabendo que não iria obter retorno... Sabia que trabalhar com pessoas não era fácil e que iria encontrar pessoas difíceis pelo caminho, mas no seu íntimo sempre acreditou que o que é fácil raramente tem valor.

Sentado naquele anfiteatro, ouvindo e absorvendo aquela representação, André, pegou numa caneta e começou a escrever. A caneta dançou-lhe nos dedos, ganhou vida própria e apenas permitiu que ele parasse de escrever quando ela achou que tinha feito o seu trabalho. Um pouco mais atento, releu o que tinha escrito e não sabia de onde aquelas palavras tinham saído. Sentiu cada palavra como se fossem suas, e as emoções arrepiaram-lhe o pelo, mas não sabia de onde vieram. A maior parte das vezes era assim, relia as suas palavras e não sabia de onde viam. Sentia que carregava, dentro de si, almas de outras vidas... A sua paixão pela escrita era o reflexo da sua fascina pelas artes. Só quem respira artes consegue criar...

Uma dia, quem sabe um dia, André, conseguiria abrir uma associação e unir o seu amor pelas artes com o seu amor pelas pessoas e pelo mundo. Quem sabe um dia ele conseguiria ajudar os outros e trazer mais alegria na vida de quem precisasse através das artes. Uma associação onde ensinaria os jovens a expressarem as suas frustrações, medos e desejos através da música, da representação, da dança, da escrita...

O musical que estava a assistir tinha por base uma família... Uma família que André sabia não poder constituir tão cedo. Por agora, estava preparado para colocar a sua mala a tiracolo e seguir os seus sonhos. Por agora, estava preparado para fazer o que fosse necessário para aprender a representar. Primeiro tinha de seguir os seus sonhos. Formar uma família  sem primeiro tornar-se no homem que tinha que se tornar não fazia muito sentido. Não queria ser mais um pai ausente como tantos que tinha conhecido enquanto sociólogo. André acreditava que não podia amar e prender-se a alguém antes de realizar o seu sonho. Não poderia nunca colocar a frustração de não ter atingido o seu objectivo na mão e no coração de uma criança...

O espetáculo acabou e André afastou as pequenas lágrimas que se formaram nos olhos. Uma peça fantástica, uma emoção extraordinária... Saiu do recinto com a certeza que esse era o seu caminho, saiu do recinto com a certeza que sem as artes não haveria vida para ele. E acima de tudo, André, sabia que iria lutar para abraçar o seu sonho. A força e a vontade que tinha para viver nunca o permitiriam ser apenas sobrevivente...

 



Adelaide Miranda, 03 de Agosto 2016


O escritor/sociólogo está disponível para contacto:

https://www.facebook.com/andresousapaginaoficial

Poesia e prosa disponível em:
http://pedacinhosdemimparati.blogspot.pt/

Bibliografia:

"Juro Amar-te", Chiado Editora, Julho de 2015
https://www.chiadoeditora.com/livraria/juro-amar-te

"O homem que me fizeste ser", Chiado Editora, brevemente