A alma por trás de... Patrícia Rocha
Colocou a mão na barriga e riu às gargalhadas.
Pelo meio, enquanto buscava ar, soltava um ronco ou outro, tamanha era a
loucura. Em vez de a fazer parar, o amor da sua vida juntou-se à risada
desenfreada. Eram assim, cúmplices até na palhaçada. Com aquele ar de menino
perdido, mas com a sabedoria de um homem de avançada idade, conquistou-a. O
amor, a paciência, a tolerância, e a partilha entre eles fazia-lhe acreditar
que seria para sempre.
Patrícia, pertencia à velha guarda
e acreditava num amor para toda a vida. A vida sabe melhor a dois. A vida sabe
melhor quando as batalhas são partilhadas, os planos são traçados e as decisões
tomadas no plural. Em tempos, tinha perdido a convicção. A doença chamada egocentrismo
tinha-se espalhado pelo mundo e ela julgava que já não era possível um amor em
torno de nós, não quando o Eu tinha uma força poderosa. Até ele… Com ele o
sonho de ter uma família era cada vez mais real.
O que mais a fascinava era o facto de não ter
necessidade de se esquecer de si mesma. Por vezes, quando se ama, passamos para
segundo lugar, mas com ela isso não tinha acontecido. Nunca abdicou da
própria felicidade e só sendo feliz pode fazer os outros felizes. Todos os dias
arregaça as mangas e atira-se ao mundo, sempre vestida de um sorriso e também a
rigor. Guerreira, seguindo as pegadas da mãe, não deixa nada por fazer e não
permite que a tristeza a consuma.
Para se libertar, escreve. Escreve o que lhe
vai na alma. Escreve sobre sentimentos, emoções, experiências. Uma terapia que
a faz sentir bem, assim como dançar. Sentir-se bem é uma prioridade. Gosta de
se sentir bonita para si própria, sente-se mais confiante, mais capaz. Aquela
história de rebanho nunca lhe fez muito sentido e segue o seu próprio caminho.
A vida é curta e quer viver tudo, hoje. O amanhã… O amanhã pode não chegar.
Saiu do transe e da risada, incrível como tão
facilmente perdia-se nos pensamentos. Já não se lembrava o motivo de tanta
galhofa, mas também não tinha importância. O importante era estarem ali, assim,
juntos. Era uma apaixonada pela vida e vivia cada momento intensamente, in… completamente.
Texto: Adelaide Miranda, Outubro 2017
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