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quarta-feira, 3 de agosto de 2016

A alma por trás de... André Sousa

A alma por trás de... André Sousa


André olhava para o palco em modo de sonho... Sentado na plateia, imaginava que ele era um dos actores e que também ele fazia o público sorrir, chorar, aplaudir... Cada vez que assistia a um musical o seu coração pulava de excitação e a sua mente transportava-o para o epicentro da emoção transmitida pelos personagens, pela música, e pela atmosfera criada no recinto. Quando veio para Lisboa, carregou consigo esse sonho na mala. Caminhasse onde quer que caminhasse, passo a passo, seguia em direcção a um palco. Um dia... Em breve...

A sua paixão pelas artes não era novidade. Nasceu assim, nasceu um amante da arte do faz de conta, um amante da arte de criar emoções através da representação, da música, da dança... Em tempos, há alguns anos atrás, inscreveu-se no curso de Engenharia Alimentar, porque achava que teria mais saída a nível professional, mas não conseguiu seguir em frente. Não teve capacidade para seguir algo pelo qual não nutria uma paixão desmedida. Conversou com os pais e aconselharam-no a fazer algo diferente, algo que ele gostasse e ao mesmo tempo lhe permitisse ter uma profissão estabelecida, com menos altos e baixos que a profissão de actor. Optou por seguir sociologia. Para além de eterno amante das artes, André, era também um amante da humanidade.

Desde criança que ajudava os outros, desde criança que as diferenças sociais o atingiam, desde criança que as diferenças em termos de oportunidade devido a diferentes personalidades e valores sociais lhe faziam confusão. Várias vezes tirou da própria boca para dar a quem não tivesse. Várias vezes emprestou sabendo que não iria obter retorno... Sabia que trabalhar com pessoas não era fácil e que iria encontrar pessoas difíceis pelo caminho, mas no seu íntimo sempre acreditou que o que é fácil raramente tem valor.

Sentado naquele anfiteatro, ouvindo e absorvendo aquela representação, André, pegou numa caneta e começou a escrever. A caneta dançou-lhe nos dedos, ganhou vida própria e apenas permitiu que ele parasse de escrever quando ela achou que tinha feito o seu trabalho. Um pouco mais atento, releu o que tinha escrito e não sabia de onde aquelas palavras tinham saído. Sentiu cada palavra como se fossem suas, e as emoções arrepiaram-lhe o pelo, mas não sabia de onde vieram. A maior parte das vezes era assim, relia as suas palavras e não sabia de onde viam. Sentia que carregava, dentro de si, almas de outras vidas... A sua paixão pela escrita era o reflexo da sua fascina pelas artes. Só quem respira artes consegue criar...

Uma dia, quem sabe um dia, André, conseguiria abrir uma associação e unir o seu amor pelas artes com o seu amor pelas pessoas e pelo mundo. Quem sabe um dia ele conseguiria ajudar os outros e trazer mais alegria na vida de quem precisasse através das artes. Uma associação onde ensinaria os jovens a expressarem as suas frustrações, medos e desejos através da música, da representação, da dança, da escrita...

O musical que estava a assistir tinha por base uma família... Uma família que André sabia não poder constituir tão cedo. Por agora, estava preparado para colocar a sua mala a tiracolo e seguir os seus sonhos. Por agora, estava preparado para fazer o que fosse necessário para aprender a representar. Primeiro tinha de seguir os seus sonhos. Formar uma família  sem primeiro tornar-se no homem que tinha que se tornar não fazia muito sentido. Não queria ser mais um pai ausente como tantos que tinha conhecido enquanto sociólogo. André acreditava que não podia amar e prender-se a alguém antes de realizar o seu sonho. Não poderia nunca colocar a frustração de não ter atingido o seu objectivo na mão e no coração de uma criança...

O espetáculo acabou e André afastou as pequenas lágrimas que se formaram nos olhos. Uma peça fantástica, uma emoção extraordinária... Saiu do recinto com a certeza que esse era o seu caminho, saiu do recinto com a certeza que sem as artes não haveria vida para ele. E acima de tudo, André, sabia que iria lutar para abraçar o seu sonho. A força e a vontade que tinha para viver nunca o permitiriam ser apenas sobrevivente...

 



Adelaide Miranda, 03 de Agosto 2016


O escritor/sociólogo está disponível para contacto:

https://www.facebook.com/andresousapaginaoficial

Poesia e prosa disponível em:
http://pedacinhosdemimparati.blogspot.pt/

Bibliografia:

"Juro Amar-te", Chiado Editora, Julho de 2015
https://www.chiadoeditora.com/livraria/juro-amar-te

"O homem que me fizeste ser", Chiado Editora, brevemente


 

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