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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A Alma Por Trás de... JLO, "O Exonerador Implacável"!

A Alma Por Trás de... JLo, "O Exonerador Implacável"!

Fonte da Imagem: Twitter de Nuno Carvalho


JLo, deambulava pelo escritório como se tivesse bicho carpinteiro.
Tinha saudades dos tempos de guerrilha, em que os oponentes eram derrotados com um leve primir do gatilho.
Sempre aspirou, mas nunca pensou, chegar a presidente. A sua nomeação foi vista como a forma mais fácil de calar um problema. Acalmar a multidão por um breve período, apenas. O futuro não seria através dele, ele serviu apenas como um mecanismo.
Enganaram-se... Enganaram-se as massas.
No dia de tomada do Poder, JLo expressou a sua vontade. Muitos temeram que se tratassem de promessas vãs. 
JLo nunca teria coragem de enfrentar os tubarões grandes, pensavam as massas.
Dia 15 de Novembro, JLo acordou com um fogo nos olhos. Recordou-se dos tempos de guerrilha em que o medo era o pior inimigo.
Recordou-se do tempo em que as decisões tinham que ser tomadas sobre pressão e qualquer indecisão poderia levar à morte.
E nesse mesmo dia, com a sua armadura invisível, JLo voltou ao ataque.
Decidiu exterminar os presumíveis indestrutíveis com a força de uma caneta.
As guerras já não se lutam com armas. As guerras lutam-se com determinação, e poder. O medo combate-se com um carimbo e um discurso.
JLo, exonerou os "inexoneráveis". Exterminou os "inextermináveis"... 
JLo, "O Guerreiro"! 
JLo, "O Soberano"!
JLo, "O Exonerador Implacável"!



Texto de: Adelaide Miranda, 17/11/2017

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A Alma Por Trás De... Diego Faria

A Alma Por Trás de... Diego Faria




Diego encostou-se à árvore e limpou o suor da testa. O dia já ia a meio e o cansaço já se fazia sentir. O pai, ao longe, continuava a trabalhar na roça. Era impressionante como nunca mostrava sinal de cansaço. Dizia que só se parava quando o trabalho terminasse ou o sol se pusesse, e como o trabalho nunca acabava, o pai trabalhava de sol a sol.
Abriu o farnel, cuidadosamente preparado pela mãe, e deleitou-se com as iguarias. Satisfeito, fechou os olhos e adormeceu...

O barulho da multidão e as luzes do palco fizeram-lhe sentir um nó no estômago. Respirou fundo, contou até dez, e subiu ao palco. O público chamava o seu nome e banda tocava uma melodia impossível de não acompanhar. Sorriu, pegou no microfone e começou a cantar.  A meio da música, pegou no violão e acompanhou a banda. A multidão batia palmas e acompanhava o compasso... Música a música, Diego, animou a multidão e deu um enorme espetáculo. O nervoso miudinho que sentiu no início tinha-se dissipado com  o calor da multidão.

Acordou, com os safanões do pai, e demorou uns segundos a perceber onde estava. Enquanto deixavam a roça e dirigiam-se para casa contou o sonho ao pai. Disse-lhe que tinha a certeza que um dia iria ser cantor. O pai, com um ar preocupado, perguntou como ficaria a roça. Se ele se fosse embora quem o iria ajudar? A pergunta ficou no ar, sem resposta...
Nessa noite, na hora da oração o pedido do Diego foi ligeiramente diferente dos pedidos anteriores. Nessa noite, para além de pedir por saúde, paz e bem estar para a família, Diego pediu forças para seguir o seu sonho custe o que custasse. E assim foi dali em diante... O pedido sempre o mesmo e a vontade de concretizar o seu sonho cada vez maior.

Diego esperou que os pais fossem dormir e saiu na calada da noite. Para trás, ficou uma vida familiar da qual sempre se orgulhou... Para trás, ficou conforto e um lar... Mas tinha noção que o seu futuro não era ali. O palco que pisou, pela primeira vez em sonhos, não se encontrava ali... Com muito medo e dor no coração, seguiu para São Paulo. Algures na cidade grande, a terceira maior do mundo, o seu sonho iria nascer. Tinha a certeza disso. O que mais lhe custou foi deixar a mãe. A mãe guerreira que sempre lutou para lhe dar educação, que sempre lutou para que nunca lhe faltasse nada, que sempre o encheu de amor... Mas a vida segue em frente... E assim foi...

No principio, a cidade grande, era estranha. Por vezes, faltou-lhe o que comer. Por vezes, entrou em desespero mas, mesmo assim, tinha vergonha de pedir dinheiro aos pais. Era difícil, para alguém que nunca passou por dificuldades na vida, de repente, passar fome porque decidiu seguir o seu sonho... Bastava pegar na mala e voltar para casa. A mãe e o pai o esperavam de braços abertos... 
Não! Não podia abandonar o seu sonho. Aprendeu com os seus próprios pais que na vida nada se consegue sem esforço. Eles ,também, há muitos anos, tinham largado tudo para ir para cidade arranjar condições para voltarem para a roça. Eles, também, lutaram pelos seus sonhos e nunca desistiram. Com eles, aprendeu a lutar. Para além do mais, não estava sozinho. Deus o acompanhava passo a passo. No coração trazia a sua família... E esse amor e essa mesma força que o puxava de voltava para o seio familiar era exatamente a mesma força que o fazia continuar. Por eles, ele tinha que chegar lá.

Desorientado, demorou um pouco a perceber em que cidade estava. Foi até a janela e reconheceu Boston. Tinha de se preparar para o concerto que iria dar no final da tarde. Ensaiou com a banda e retirou-se antes do espetáculo começar. Ligou para a mãe e disse que a amava muito e que estava a morrer de saudades... A mãe perguntou quando voltava para casa... A pergunta, não ficou sem resposta: Já corri meio mundo, minha mãe. Hoje, posso dizer que sou o cantor que sempre sonhei. Em breve, minha mãe. Em breve, quando tudo se estabilizar, estarei pronto para voltar para os teus braços. O meu sonho já não é mais um sonho, minha mãe. É esta a minha realidade!




Texto|: Adelaide Miranda, Novembro 2017


O cantor pode ser contactado para entrevistas e actuações:
E-mail: geral.wmm@gmail.com 

Instagram: https://www.instagram.com/diegofariaoficial/




quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A alma Por Trás de... Vítor Costeira

A Alma por Trás de... Vítor Costeira



Ai o amor... O amor... O amor... 
Deambulando a caneta pelos dedos, Vítor, procurava a palavra que mais se adequava ao sentimento que lhe assolava a alma: amor... A palavra mais simples, e inquestionavelmente mais utilizada, era insuficiente para o sentimento que transbordava a sua alma. Precisava de algo mais... Algo mais sofisticado que conseguisse transmitir, numa palavra apenas, a imensidão de um sentimento infinito, intemporal, gigante...
Alguém lhe tinha sugerido que o nome de uma mulher poderia refletir o sentimento... Outros sugeriram que o nome de um filho poderia refletir o sentimento... Outros ainda, mais narcisistas, sugeriram que o seu próprio nome refletia o sentimento, mas... Vítor amava mais que uma mulher, mais que um filho, mais que a si próprio. Vítor amava a vida. Amava o simples respirar, amava o simples facto que o Sol nascia e punha-se todos os dias... Amava o mar, as estrelas, as flores, até as pedras que por vezes se colocavam no seu caminho...
Da sua janela, observava o parque... A caneta deixou de deambular e ganhou vida. O momento de vida que observava merecia ser eternizado. Imaginou o que pensava o idoso sentado no parque, sorriu com as travessuras da criança que corria à volta do idoso, que devia sem dúvida ser o avô, questionou-se sobre o motivo da melancolia da senhora de meia idade, encostada à árvore, e aparentemente perdida no tempo. Descreveu o que via com o sentimento que lhe tocava na alma e, como por magia, o idoso deixou de ser um estranho e passou a um velho amigo. Releu o texto, construído como um conto, aprimorou e limou as arestas até sentir-se satisfeito.
Olhou para o relógio e assustou-se com o passar do tempo. Por hábito, perdia-se na sua alma e as horas passavam como se de segundos se tratassem. Preparou-se para ir dar aulas. Afinal, ser professor era a constante na sua vida. Ensinar trazia-lhe de volta ao mundo dos vivos e dava-lhe o balanço essencial para sentir-se como parte integrante de uma sociedade que por vezes questionava. Amava o que fazia. Amava partilhar parte da sua sabedoria, amava aprender com os seus alunos... Para ele, ser professor significava ser também estudante. Todos os dias ensinava algo e aprendia algo. Por ironia, sentia que aprendia mais do que ensinava. A interação com outros seres humanos fascinava-o e carregava-o de energia. E assim, amando o que fazia, passava o dia.
Já deitado na cama, algo o inquietava. Levantou-se e sentou-se na escrivaninha. A caneta dançava pelos dedos à medida que o poema se fazia. Escreveu sobre o mar, escreveu sobre as estrelas, escreveu sobre a lua... Escreveu o que lhe escorria da alma até esta deixar de gritar. Olhou para as suas palavras e pensou... Amor... Ai o amor... O amor... Provavelmente, nunca iria encontrar a palavra para definir o sentimento que mais lhe assolava a alma. Aquele sentimento infinito, intemporal e gigante.

Por agora, contentava-se com os pequenos pedaços de amor que registava no seu caderno, no seu dia-a-dia.  A definição de amor, por enquanto... VIDA!




Texto: Adelaide Miranda, Novembro 2017


O professor / poeta / escritor está disponível para contacto em:
Facebook: https://www.facebook.com/VitorMNCosteira

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A alma por trás de... Patrícia Rocha

A alma por trás de... Patrícia Rocha





Colocou a mão na barriga e riu às gargalhadas. Pelo meio, enquanto buscava ar, soltava um ronco ou outro, tamanha era a loucura. Em vez de a fazer parar, o amor da sua vida juntou-se à risada desenfreada. Eram assim, cúmplices até na palhaçada. Com aquele ar de menino perdido, mas com a sabedoria de um homem de avançada idade, conquistou-a. O amor, a paciência, a tolerância, e a partilha entre eles fazia-lhe acreditar que seria para sempre.
Patrícia, pertencia à velha guarda e acreditava num amor para toda a vida. A vida sabe melhor a dois. A vida sabe melhor quando as batalhas são partilhadas, os planos são traçados e as decisões tomadas no plural. Em tempos, tinha perdido a convicção. A doença chamada egocentrismo tinha-se espalhado pelo mundo e ela julgava que já não era possível um amor em torno de nós, não quando o Eu tinha uma força poderosa. Até ele… Com ele o sonho de ter uma família era cada vez mais real.
O que mais a fascinava era o facto de não ter necessidade de se esquecer de si mesma. Por vezes, quando se ama, passamos para segundo lugar, mas com ela isso não tinha acontecido. Nunca abdicou da própria felicidade e só sendo feliz pode fazer os outros felizes. Todos os dias arregaça as mangas e atira-se ao mundo, sempre vestida de um sorriso e também a rigor. Guerreira, seguindo as pegadas da mãe, não deixa nada por fazer e não permite que a tristeza a consuma.
Para se libertar, escreve. Escreve o que lhe vai na alma. Escreve sobre sentimentos, emoções, experiências. Uma terapia que a faz sentir bem, assim como dançar. Sentir-se bem é uma prioridade. Gosta de se sentir bonita para si própria, sente-se mais confiante, mais capaz. Aquela história de rebanho nunca lhe fez muito sentido e segue o seu próprio caminho. A vida é curta e quer viver tudo, hoje. O amanhã… O amanhã pode não chegar.

Saiu do transe e da risada, incrível como tão facilmente perdia-se nos pensamentos. Já não se lembrava o motivo de tanta galhofa, mas também não tinha importância. O importante era estarem ali, assim, juntos. Era uma apaixonada pela vida e vivia cada momento intensamente, in… completamente.




Texto: Adelaide Miranda, Outubro 2017

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terça-feira, 17 de outubro de 2017

A Alma Por Trás de... Ana Silvestre

A Alma Por Trás de... Ana Silvestre



Ana, deixou-se chorar. Nem sempre conseguia ser forte. Não se pode ser sempre forte. Por vezes, é necessário abrir as guardas e permitir que as emoções invadam a nossa alma. Por vezes, é necessário sentir as emoções ao rubro, absorvê-las… 
Desde criança que sempre foi assim. Sempre sentiu a necessidade de entregar-se às emoções. Sempre precisou de sentir intensamente. Sempre precisou de entender o porquê das coisas que a rodeiam. Tal como as emoções, o dia a dia quotidiano intrigava-a. As perguntas que tinha não podiam ficar sem resposta. Intensamente…
Sim. Essa é a palavra que melhor a define. Intensidade. Ana, a intensa. Sempre ouviu dizer que as pessoas mudam com o tempo. Contudo, Ana não mudou com o tempo, apenas intensificou-se. A criatividade, a generosidade, a determinação, a frontalidade que a caracterizavam em criança, acompanharam-na para a vida adulta. Permitiram-lhe viver experiências que a definem. Cada momento vivido, intensamente, cravado na sua alma como que uma impressão digital.
Cada momento vivido, imortalizado, de uma forma ou de outra, nos textos que escreve. O choro tinha começado assim. Tinha chegado ao fim de mais um livro. O misto de emoções, refletidas na história das suas personagens, por norma entravam em erupção ao chegar ao último paragrafo. Ao escrever, dava sempre tudo o que tinha para dar e a descarga de adrenalina, com o final da história, culminava sempre numa choradeira sem fim.
Ana, a intensa… olhou para o relógio e compôs-se. A vida, afinal, não parava. Apressou-se a preparar o jantar. Era dia de casa cheia, dia de alegria, dia de festa, e não podia ser de outra forma. Não sabia viver sem a família e sem os amigos. Eram a sua fonte de energia e ao mesmo tempo a sua razão de viver. O seu “centro”. A sua entrega era total. Em todas as escolhas que fez na vida, a família veio sempre em primeiro lugar. Não podia ser de outra forma. Não fazia sentido de outra forma…

Ana, a intensa. A Ana que dá sem esperar nada em troca. A Ana que vive como se hoje fosse o último dia. A Ana que escreve porque não consegue existir de outra forma. A Ana que é a Ana porque tem a família que a ama. A Ana que desde criança sabia que só deste jeito poderia ser a Ana. Pois é, ela sabia… Já estava escrito.

Texto: Adelaide Miranda, Outubro 2017


A escritora, Ana Silvestre, está disponível para contacto:

facebook: https://www.facebook.com/eusabiaestavaescrito

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A alma por trás de... Paula Bollinger

A alma por Trás de... Paula Bollinger




Paula, sentou-se no sofá e aconchegou-se no seu canto favorito: o ombro do seu marido. Respirou paz e amor. Finalmente, encontrou o que tinha procurado uma vida inteira. Ali, aninhada no seu porto seguro, grudada no seu príncipe encantado, alcançou o sonho de uma vida: encontrar a alma gémea, a alma que a entendesse sem que ela precisasse falar, a alma que a protegesse sem que ela precisasse de pedir socorro, a alma que encaixasse perfeitamente nas curvas quebradas da sua.
Quase a adormecer, despertou com o samba de roda que se dançava no seu ventre. O maior milagre da sua vida, a pequena Isabella, talvez por sentir a paz interior, a felicidade e o amor que emanava da sua mãe, decidiu celebrar sambando ao ritmo do amor. Carinhosamente, Paula colocou a mão de António sobre o seu ventre e ambos sorriram com cumplicidade.
É incrível, como a vida corre e como o tempo passa, pensou Paula. Sonhadora e aventureira, desde pequena, sempre soube que o segredo da vida era viver intensamente. Cidadã do mundo, cedo aprendeu que a paz e a estabilidade encontra-se dentro do lar. Cedo aprendeu que o lar não é feito de quatro paredes mas de amor e união. Passou por vários países e absorveu muitas culturas. Com cada mudança aprendeu que nunca se deve deixar nada por fazer porque depois pode ser tarde demais. Ao crescer, viveu em vários cantos do mundo e, apenas teve uma constante na vida: a família.
Como mulher, sempre lutou por viver a vida intensamente. A vida não vale a pena ser vivida se for tomada como garantida. A energia que carregamos deve ser utilizada para seguirmos os nossos sonhos, para sermos melhores que nós próprios. Todos os dias devemos competir com o nosso eu de ontem, tentarmos ser melhores, mais humanos, mais vivos. Nas mil vidas que viveu tentou sempre fazer o que a sua alma pedia, o que a sua alma gritava. Sem medos largou o que teve que largar, recomeçou o que teve que recomeçar. Sempre definiu o seu amanhã, sempre definiu a sua profissão. Lutou contra o protótipo da mulher convencional e foi diretora de televisão numa altura em que as mulheres ainda eram vistas como domésticas. Tornou-se fotografa masculina contra os standards da sociedade. Viveu muito e perdeu pouco. Os erros foram lições da vida que a ajudaram a chegar onde chegou hoje.
Conquistou o mundo, mas faltava ser conquistada. Procurou o amor, o lar que lhe trouxesse paz interior, e lutou. Lutou muito por amor. O maior sonho, o de ser mãe, foi lhe roubado pela natureza. O diagnóstico, pouco favorável, tirou-lhe a esperança e deixou de sonhar em gerar uma criança. Mas o amor, o amor não se procura...  O amor encontra-se. E quando menos esperava, encontrou a alma que lhe pertencia. Uma alma que entrou no seu intimo e reacendeu a paixão pela cozinha. Uma alma que entrou no seu íntimo e curou a sua dor profunda. O amor... O amor faz milagres...

Aninhada no seu porto seguro, Paula, deixou-se adormecer. O amor faz milagres... O maior milagre da sua vida estava a sambar no seu ventre. Viveu mil vidas em uma, fez o que tinha que fazer, lutou o que tinha que lutar. A vida conspirou para que nesse preciso momento estivesse exatamente onde tinha de estar: ao lado da sua alma gémea, carregando em si, contra todas as expectativas, o milagre da vida. 



Texto: Adelaide Miranda, Outubro 2017

A fotografa/blogger, Paula Bollinger, está disponível para contacto:

instagram: @paulabollinger_entrecolheradas
facebook: https://www.facebook.com/paulabollingerentrecolheradas

Blog:
www.entrecolheradas.com

terça-feira, 5 de setembro de 2017

A alma por trás de... Ana Oliveira


A Alma Por Trás de... Ana Oliveira

 


Acordou com o cheiro do mar. Deambolou, meio zonza, até às janelas, do estilo francês, que davam acesso às traseiras da casa e ao trilho que lhe levava à praia. 

A meio caminho, arrependeu-se de não ter levado um casaco. Abraçou-se e continuou, a tiritar de frio, determinada a parar apenas em frente ao mar. 

Ali, perante aquela imagem, sentou-se no areal e encolheu-se o mais que podia. Estava frio, sim, mas a necessidade de conversar com o mar era bem maior que um ocasional tremer de ossos.

Fechou os olhos e concentrou-se na sua própria respiração. Aos poucos, relaxou e focou-se apenas no barulho do mar. Inicialmente, eram as ondas a bater na areia que se faziam ouvir. Depois, o assobio nas conchas no fundo do mar tornou-se mais evidente. Por fim, e finalmente, a voz do seu pai fez-se ouvir.

- Ana, minha filha, segue os teus sonhos sempre. Não desistas nunca, minha filha. Estou sempre no teu coração.

As lágrimas, suas mais fiéis companheiras, escorreram pela sua face e tocaram-lhe os lábios. Saborou o sal e teve a certeza que estas lágrimas vinham do mar. Respirou fundo e ganhou coragem para responder.

- Meu pai, minha força, meu porto seguro, meu anjo da guarda. Vou seguir sempre os meus sonhos porque sei que caminhas comigo, lado a lado, sempre. 

- Eu amo-te, Ana, minha filha.

- E eu a ti, meu pai. Tenho tantas saudades tuas.

- Não tenhas, minha filha. Estou contigo, sempre. Sou parte de ti, tal como tu és parte de mim...

- Eu perdoo-te, meu pai. Queria tanto abraçar-te novamente.

- Caminha até ao mar, minha filha. Senta-te à beirinha, tal como fizeste hoje, e deixa envolver-te pela sua força, pelo seu cheiro, pela sua melodia. Sou eu que te abraço, minha filha. Sou eu que te embalo. Amo-te...

A voz do seu pai silenciou-se e foi substituída pelo bater das ondas na areia. Aos poucos, voltou a ficar ciente da realidade à sua volta. O tiritar dos ossos e o bater dos dentes tornaram-se, subitamente, ensurdecedores.

A custo, levantou-se e voltou para casa. Aninhou-se na cama e tentou dormir. A conversa que teve com o pai, tinha trazido alguma paz mas só o tempo poderia ajudar a aguentar a saudade que lhe assaltava o peito. Os ossos ainda dormentes, do frio, também não a deixavam dormir. Levantou-se e ligou o rádio. Deixou-se envolver pela música que tocava e começou a dançar suavemente e em bicos de pés. Rodopiou ao som da música e viu-se, por momentos, livre de preocupações. Dançar era a sua salvação. Quando dançava, a sua alma viajava para outro mundo e via-se novamente nos braços do pai, a aprender a dançar, passo a passo, compasso a compasso...
O seu gato juntou-se a ela e juntos dançaram até ao amanhecer. Seu fiel companheiro, deitou-se à beira da cama e ronronou expressando cansaço. Ana, rendeu-se. Afagou o gato e com um sorriso nos lábios desligou a música e voltou para a cama. Finalmente, com a alma solta e livre, adormeceu.
 

Um texto de: Adelaide Miranda
Setembro 2017

Contacto para entrevistas e shows:
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